Relator admite que Justiça exija documentos para evitar litigância predatória; vista suspende julgamento
A Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) iniciou, nesta quarta-feira (21), o julgamento
do Tema Repetitivo
1.198, para definir se o magistrado, ante a suspeita de ocorrência
de litigância predatória, pode exigir que a parte autora emende a petição
inicial e apresente documentos capazes de embasar os pedidos apresentados
no processo.
Em seu voto, o relator do
recurso repetitivo, ministro Moura Ribeiro, defendeu a fixação de tese no sentido de
considerar válida a determinação judicial de apresentação de documentos aptos a
"lastrear minimamente as pretensões deduzidas" no estágio inicial da
ação, desde que em decisão fundamentada e com a observância das peculiaridades
de cada caso concreto. O julgamento foi suspenso após pedido de
vista do ministro Humberto Martins.
Para debater o assunto e subsidiar a análise do tema repetitivo – que teve origem em julgamento de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR) no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) –, a Segunda Seção do STJ realizou audiência pública em outubro do ano passado. Posteriormente, o repetitivo foi afetado para julgamento na Corte Especial.
Avalanche
de processos infundados demostra existência de litigância predatória
O ministro Moura Ribeiro
explicou que o objetivo principal da discussão do repetitivo é
estabelecer em qual medida o juízo, antevendo a "natureza temerária"
do processo, pode exigir da parte autora que apresente documentos capazes de
confirmar a seriedade dos pedidos submetidos ao Judiciário.
Segundo o relator, apesar de ser
admissível o ajuizamento de demandas massificadas em temas como telefonia,
planos de saúde e direitos previdenciários, o Brasil tem observado uma
"avalanche de processos infundados", muitas vezes caracterizados pelo
abuso no direito de ação.
"Tais feitos não apenas
embaraçam o exercício de uma jurisdição efetiva, mas, verdadeiramente, criam
sérios problemas de política pública, conforme identificado por órgãos de
inteligência de vários tribunais", completou.
Nesses casos, de acordo com
Moura Ribeiro, tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o STJ têm admitido
que a Justiça ordene que a parte apresente documentos válidos para comprovar
o interesse de agir ou a verossimilhança do direito alegado na ação, evitando, assim,
o uso fraudulento do processo judicial.
Justiça
também pode exigir procuração atualizada para o advogado
Como exemplos desses documentos,
Moura Ribeiro afirmou que podem ser exigidos, conforme o caso concreto,
extratos bancários, contratos, comprovantes de residência, procuração
atualizada e com poderes específicos, entre outros.
Especificamente em relação à
procuração firmada entre autor e advogado, o relator ressaltou que, caso o
defensor apresente um instrumento de mandato muito antigo, "dando margem à
crença de que não existe mais relação atual com o cliente", é lícito ao
juiz determinar que a situação seja esclarecida – com a juntada aos autos,
eventualmente, de nova procuração.
Ainda não há data para a
retomada do julgamento na Corte Especial. De acordo com o artigo 162 do
Regimento Interno do STJ, o ministro ou a ministra que pede vista dos autos
durante o julgamento tem o prazo de 60 dias para devolver o processo,
prorrogável por 30 dias, mediante requerimento ao colegiado.
Esta notícia refere-se
ao(s) processo(s):REsp 2021665
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acesso à Justiça
Fonte: STJ
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