INTERPRETAÇÃO LIMITADA Maioria dos juízes entende que não deve seguir jurisprudências, diz pesquisa
11 de fevereiro de 2019, 16h42
Os juízes brasileiros não gostam muito de seguir jurisprudência e nem
são apegados a precedentes. De acordo com pesquisa sobre o perfil da
magistratura divulgada nesta segunda-feira (11/2) pela Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB), a maioria dos juízes, de primeira e de segunda
instância, acha que o sistema de precedentes prejudica sua independência
profissional.
Maioria dos juízes brasileiros acha
que sistema de precedentes afeta sua independência, mostra pesquisa da AMB
De acordo com a pesquisa, 52% dos juízes de primeiro grau entendem que
não devem se pautar por jurisprudência. Até mesmo os ministros, responsáveis
por criar os precedentes e súmulas, são ressabiados com o sistema: 55% dos
20 entrevistados pela pesquisa concordam que o magistrado deveria poder
decidir sem se pautar necessariamente pelo sistema de súmulas e precedentes
vinculantes.
Ao mesmo tempo, no entanto, a maioria
esmagadora dos juízes concorda que o sistema de precedentes garante maior
velocidade e segurança jurídica à atividade jurisdicional e, portanto, maior
racionalização do Judiciário. A pesquisa “Quem somos: a magistratura que queremos” ouviu cerca
de 4 mil magistrados.
Questão: O(a) magistrado(a) deveria
poder decidir sem se pautar necessariamente pelo sistema de súmulas e
precedentes vinculantes.
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Concorda
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Discorda
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1º grau
|
51,8%
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48,2%
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2º grau
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51,3%
|
48,7%
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Inativos
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66,6%
|
33,3%
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Ministros
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55%
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45%
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Questão: O sistema de súmulas e
precedentes vinculantes afeta a independência do(a) magistrado(a) em sua
interpretação das leis e em sua aplicação.
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Concorda
|
Discorda
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1º grau
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51,5%
|
48,4%
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2º grau
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56,5%
|
43,6%
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Inativos
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63,9%
|
36%
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Ministros
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40%
|
60%
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É um dado alarmante, aponta o
constitucionalista Lenio Streck. O Código de Processo Civil de 2015
acabou com o que o jurista chama de "livre convencimento". Os artigos
926 e 927 do CPC enumeram o que os juízes e tribunais devem observar quando
forem tomar decisões, minimizando a influência de interpretações pessoais.
Para Lenio, "a pesquisa desnuda um problema grave, que já
era do conhecimento da comunidade jurídica, isto é, não há simpatia de parcela
considerável da magistratura, nos diversos graus, por um sistema jurídico que
funcione por, e com, coerência e integridade".
"E aí reside o nó: exatamente por isso é que o sistema é
fragmentado e há tantos recursos. Isso gera jurisprudência defensiva. É um
círculo vicioso. Se as decisões não são coerentes umas com outras e não
obedecem uma integridade vertical, parece óbvio que aumenta a insegurança
jurídica", analisa o professor.
"O que a pesquisa não perguntou é, por exemplo, as razões pelas
quais nem os próprios tribunais superiores seguem a sua própria jurisprudência.
Temos, pois, um duplo problema: os juízes de piso e tribunais de segundo grau
não obedecem - ou, como diz a pesquisa, não concordam que devam obedecer - a
jurisprudência (precedentes, sumulas etc) que vem de cima. E os tribunais de
cima não seguem a si mesmos. Interessante é que, desde 2015, existe o novo CPC
que obriga a que todos os magistrados (incluídos Ministros) que julguem de
acordo com o artigo 926 do CPC, que diz que a jurisprudência deve ser estável,
íntegra e coerente, além do artigo 10 que diz que nenhuma decisão deve ser
feita de surpresa. Isso sem considerar o artigo 489, parágrafo 1º do
CPC."
Ativismo judicial
Os juízes responderam também perguntas sobre ativismo judicial e fundamentação das decisões. Em relação à possibilidade do Judiciário exercer um papel criativo na produção de normas acerca de temas sensíveis para a sociedade sobre os quais não se constitui uma maioria parlamentar, o posicionamento muda conforme o grau do judiciário.
Os juízes responderam também perguntas sobre ativismo judicial e fundamentação das decisões. Em relação à possibilidade do Judiciário exercer um papel criativo na produção de normas acerca de temas sensíveis para a sociedade sobre os quais não se constitui uma maioria parlamentar, o posicionamento muda conforme o grau do judiciário.
Em primeiro grau, a maioria discorda. Já em segundo grau, há uma maioria
favorável (55,8%). Nos tribunais superiores, a quantidade de ministros que
concordam com esse papel do Judiciário aumenta ainda mais (66,6%).
Já em relação à possibilidade do Judiciário interpretar criativamente as
leis para atender a anseios da sociedade sobre temas sem definição parlamentar,
a maioria dos magistrados concorda que é possível.
90% dos entrevistados concordaram ainda que é legítimo ao
magistrado se basear em princípios constitucionais para compelir os demais
poderes a assegurar a efetividade de direitos, em especial quanto à saúde,
educação e segurança.
Clique aqui para ler a pesquisa.
Tadeu Rover é repórter da revista Consultor
Jurídico.
Revista Consultor Jurídico,
11 de fevereiro de 2019, 16h42
https://www.conjur.com.br/2019-fev-11/juizes-entendem-nao-seguir-jurisprudencia-pesquisa
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