CONCUBINATO IMPURO - Só há partilha entre amantes se bens foram obtidos por esforço comum, diz STJ
3 de janeiro de 2018, 12h36
Nos casos de concubinato impuro — relação afetiva em que uma das
pessoas já é casada —, a partilha de bens somente é possível se comprovado que
o patrimônio adquirido decorreu de esforço comum.
O entendimento foi adotado pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
ao rejeitar recurso de recorrente que pediu a partilha de bens da ex-amante.
Para o colegiado, o tribunal de origem acertou ao não equiparar a relação
extramatrimonial à união estável.
Segundo o relator do recurso, ministro Villas Bôas Cueva, o recorrente
assumiu o risco inerente à informalidade ao manter uma relação extraconjugal
que não é protegida pela legislação nacional.
“Acertadamente, a corte de origem esclareceu que o concubinato impuro
não se confundiria com a união estável, especialmente porque um dos membros já
possuiria um relacionamento conjugal com outra pessoa, praticando-se, em
verdade, na hipótese, um ato de traição conjugal”, disse o ministro.
O relator destacou que o STJ já afirmou não ser juridicamente possível
conferir ao concubinato adulterino o mesmo tratamento dado à união estável.
Ressaltou que eventual partilha de bens dependeria de prova da colaboração
efetiva para a sua aquisição, de forma a caracterizar a sociedade de fato,
hipótese que atrai, normalmente, as regras do direito obrigacional.
Cueva apontou, porém, que a Vara de Família não estaria proibida de
fazer juízo de valor sobre o tema, especialmente quando “já conhece as provas e
circunstâncias que circundam as relações familiares postas na lide, por
configurar excesso de rigor formal que não se coaduna às regras
constitucionais, principalmente aquela concernente à duração razoável dos
processos (artigo 5º, LXXVIII, da Constituição)”.
Ausência de provas
A comprovação não ocorreu no caso analisado, segundo o relator. “Ao não provar a participação na construção de um patrimônio comum com a ex-concubina, com quem não formou vínculo familiar, já que a legislação pátria, diferentemente da regular união estável, não socorre esse tipo de conduta, não há falar em partilha”, resumiu Villas Bôas Cueva.
A comprovação não ocorreu no caso analisado, segundo o relator. “Ao não provar a participação na construção de um patrimônio comum com a ex-concubina, com quem não formou vínculo familiar, já que a legislação pátria, diferentemente da regular união estável, não socorre esse tipo de conduta, não há falar em partilha”, resumiu Villas Bôas Cueva.
O ministro afirmou que a pretensão de partilha sem comprovação de
contribuição direta para a construção do patrimônio é “inadmissível” do ponto
de vista jurídico.
Segundo o processo, o recorrente manteve a relação extraconjugal por
nove anos, período no qual teria adquirido um imóvel com a concubina. Na ação
de reconhecimento e dissolução de sociedade de fato, julgada improcedente nas
instâncias de origem, buscou a partilha do imóvel onde a ex-amante reside.
Para o relator, “o concubinato ou relação paralela, diferentemente da
união estável e do casamento, pode produzir efeitos jurídicos se eventualmente
houver prole ou aquisição patrimonial por ambos os concubinos, o que depende de
demonstração cabal”, inexistente no caso concreto.
Concluindo, disse que o recorrente,
“ao não abandonar o lar oficial, deu causa a circunstância antijurídica e
desleal, desprezando o ordenamento pátrio, que não admite o concubinato impuro.
Ao buscar partilha sem comprovar a contribuição direta para a construção do
patrimônio vindicado, pratica verdadeiro venire contra factum proprium [proibição
do comportamento contraditório], o que é inadmissível, já que o Direito não
socorre a própria torpeza”. Com informações da Assessoria de Imprensa
do STJ.
Revista Consultor Jurídico,
3 de janeiro de 2018, 12h36
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