DIVERGÊNCIA DE VALORES - Defesa de Edemar Cid Ferreira pede suspensão de leilão de obras de arte
A escultura Tríade Trindade, de Tunga, é uma das obras que estão no processo do leilão |
Por achar que os valores colocados são muito inferiores aos praticados
no mercado, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira recorreu ao Tribunal de Justiça
de São Paulo para suspender o leilão de suas obras de arte. As vendas foram
autorizadas pelo juiz Paulo Furtado, da 2ª Vara de Falências e Recuperações
Judiciais, e começaram na última sexta-feira (11/11) e vão até o dia 29.
.
O contexto do pedido de suspensão continua o mesmo dos outros episódios
do processo de falência do Banco Santos, que já se arrasta por mais de dez
anos. O banqueiro e parte dos credores acusam o administrador judicial, Vânio
Aguiar, de agir com má-fé e de tentar obstruir a finalização do processo. O
juiz Paulo Furtado é acusado de ser ineficiente e não perceber os supostos
desmandos de Aguiar, ou de agir em conluio.
A defesa de Edemar, representado pelo
escritório Winther Rebello, alega que as obras foram avaliadas
com preço muito abaixo do valor de mercado. Para esclarecer, citam alguns
exemplos: uma obra de Franz Waissman valeria, segundo o especialista Max
Pelingro, R$ 900 mil (em vez de R$ 130 mil); a obra Vestal, de
Victor Brecheret, vale, segundo o galerista Ricardo Camargo, R$ 4 milhões a
mais do que o estipulado para o leilão.
Segundo a defesa de Edemar, o administrador judicial não permitiu
que o perito escolhido pelo banqueiro concedesse seus pareceres sobre os
valores das obras, mesmo tendo sido autorizado pela Justiça a fazê-lo. Além
disso, teria sido desenvolvido um clima de punição para o ex-banqueiro, com o
objetivo de ser divulgado pela imprensa.
Escultura 'Touro (Zebu)", de Victor Brecheret, uma das obras que compõem acervo do leilão. |
“A pergunta sempre presente é a seguinte: a quem interessa tal queima de
ativos? A quem interessa criar obstáculos para uma segunda opinião técnica nos
autos quanto as obras arrecadadas? Por que tanta celeridade, tanta pressa do
Sr. Administrador Judicial, nem que para isso o processo tenha transcorrido às
expensas do devido processo legal?”, questiona a defesa.
Credores querem falar
O caso da falência do Banco Santos teve em 2016 seu ano mais atribulado. Em maio, a Assembleia Geral dos Credores elegeu um plano elaborado pelo banco Credit Suisse para gestão dos ativos. Mas o juiz Paulo Furtado anulou o que foi decidido, afirmando que a proposta fazia Edemar Cid Ferreira receber antes de alguns credores. O Credit Suisse então retirou sua proposta.
O caso da falência do Banco Santos teve em 2016 seu ano mais atribulado. Em maio, a Assembleia Geral dos Credores elegeu um plano elaborado pelo banco Credit Suisse para gestão dos ativos. Mas o juiz Paulo Furtado anulou o que foi decidido, afirmando que a proposta fazia Edemar Cid Ferreira receber antes de alguns credores. O Credit Suisse então retirou sua proposta.
O banco europeu demonstrou discordar
da atuação do juiz e do administrador judicial no caso. Já um grupo de credores
que comporta 27% dos credores quirografários do Banco
Santos foi mais incisivo e acusam Vânio de manipular o
processo.
Sobre o titular da 2ª Vara, Paulo Furtado, dizem que ele convalidou “os
abusos e erros crassos cometidos por seu principal auxiliar [Vânio Aguiar],
inclusive deixando-o o ostensivamente imune e impune por seus atos e omissões”
e de se voltar contra os credores. A luta do grupo é para que a proposta do
Credit Suisse volte a ter validade.
Já a defesa de Edemar, no pedido de suspensão do leilão, afirma que o
juiz promoveu uma inversão de valores ao anular a decisão da assembleia. O
ex-banqueiro diz que independente da proposta elaborada para resolver o
impasse, o juiz, o administrador judicial e o Ministério Público sempre
colocarão algum entrave.
"De qualquer forma, Vossas Excelências estão diante de mais uma
grave denúncia de manipulação e uso abusivo do Poder. Daí porque a suspensão do
leilão e nulidade da decisão são medidas que se impõe", conclui a defesa.
Clique aqui para ler a
petição.
Fernando Martines é repórter da revista Consultor
Jurídico.
Revista Consultor Jurídico,
16 de novembro de 2016, 17h16
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