EXCEÇÃO PERIGOSA - Raúl Zaffaroni ataca decisão do TRF-4 que deu carta branca para "lava jato"
30 de outubro de 2016, 20h10
A decisão do Tribunal Regional Federal
da 4ª Região segundo a qual a operação “lava jato” não precisa
seguir as regas dos casos comuns repercutiu internacionalmente. O jurista
argentino Raúl Zaffaroni acaba de publicar um artigo no qual diz que a decisão
lhe causou assombro.
Advogados apontam que as investigações
ignoram os limites da lei ao, por exemplo, permitir grampos em escritório de
advocacia, divulgação de interceptações telefônicas envolvendo
a presidente da República e a "importação" de provas da
Suíça sem a autorização necessária. Mas, para a Corte Especial
do TRF-4, os processos "trazem problemas inéditos e exigem soluções
inéditas".
Jurista lembra que
"excepcionalidade" foi o argumento de toda inquisição da história.
O jurista argentino é direto ao analisar a carta branca dada pelo
tribunal à operação comandada pelo juiz Sergio Moro: “Excepcionalidade foi o
argumento legitimador de toda a inquisição da história, desde a caça às bruxas
até hoje, através de todos os golpes e ditaduras subsequentes. Ninguém nunca
exerceu um poder repressivo arbitrária no mundo sem invocar a ‘necessidade’ e
‘exceção’, mas também é verdade que todos eles disseram hipocritamente estar
agindo legitimados pela urgência de salvar valores mais elevados contra a
ameaça dos males de extrema gravidade”.
O assombro, diz Zaffaroni, vem do
fato de o TRF-4 não ter sequer apontado um “bem maior”, como costumam fazer
aqueles que implantam regimes de exceção. O problema maior, afirma o texto,
publicado no site Página 12, é que o tribunal federal disse
textualmente que a Justiça pode ignorar a Constituição quando necessário, para
fazer cumprir a lei penal em casos que não são considerados “normais”.
Ao traçar paralelos com a realidade argentina, o jurista afirma:
“Infelizmente, encontramos um revanchismo exercido sob a legitimação de
discursos com muito baixo nível de desenvolvimento: como no julgamento
brasileiro, dá a impressão de que ele se exibe sem tentar a menor
dissimulação”.
De perfil legalista, Zaffaroni é
visto como uma antítese de justiceiros. Em relação a delações premiadas, por
exemplo, o ministro aposentado classifica o criminoso que colabora com a
Justiça em troca de benefícios de psicopata. “Não respeita sequer as regras da
ética mafiosa para negociar a sua impunidade”, disse em entrevista à ConJur, em novembro
de 2015.
Recentemente, foi visitado por advogados do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, para integrar a defesa de Lula na Organização das Nações
Unidas (ONU).
http://www.conjur.com.br/2016-out-30/zaffaroni-ataca-decisao-trf-deu-carta-branca-lava-jato
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