Em coletiva, presidente do TSE aborda financiamento eleitoral, tempo de propaganda e lei de abuso de autoridade
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar
Mendes, recebeu jornalistas de diversos veículos da imprensa para uma
entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (1º). A coletiva foi concedida
após a sessão de encerramento do primeiro semestre de 2016.
Na abertura da entrevista, Gilmar Mendes teceu considerações sobre os
desafios enfrentados pela Justiça Eleitoral na preparação das Eleições
Municipais de outubro que, segundo ele, serão as maiores da história. “As
eleições municipais são, para nós, as mais desafiadoras, mais complexas. Nós
estamos estimando que vamos ter nestas eleições municipais algo em torno de 530
a 580 mil candidatos”, disse.
As novidades trazidas pela Reforma Eleitoral e sintetizadas na Lei nº
13.165/2015 também forma abordadas pelo presidente do TSE em sua fala inicial.
Questões como a vedação ao financiamento de campanhas eleitorais por parte de
pessoas jurídicas, o limite de gastos das campanhas e o encurtamento do período
da campanha eleitoral no rádio e na televisão, segundo ele, são importantes
mudanças de paradigma e poderão acarretar uma maior judicialização do processo
eleitoral. Para ele, as eleições de outubro servirão como um aprendizado para o
processo de reorganização eleitoral em curso no país após a Reforma Eleitoral.
“Nós não precisamos ficar assustados. Tomemos estas eleições municipais, em
vários sentidos, como um experimento institucional. Certamente, elas vão
fornecer bases para reformas que, inevitavelmente, deverão ocorrer a partir de
outubro deste ano e certamente terão efeito já para as Eleições de 2018”,
completou.
No que se refere à proibição das doações eleitorais por pessoas
jurídicas, o presidente do TSE declarou acreditar que a evolução no
processo de prestação de contas eleitorais e a criação de um sistema de
inteligência da Justiça Eleitoral servirá para coibir a ocorrência de práticas
ilícitas, como o caixa-dois e a manipulação de números de CPF para forjar
doações individuais legais. “Estamos nos preparando para isso. Criamos um conselho
de inteligência no âmbito da Justiça Eleitoral, no TSE, composto por pessoas do
Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], do Banco Central, da
Receita Federal, do Tribunal de Contas da União. Estamos fazendo esse esforço,
tendo feito, inclusive, um convênio com o Ministério Público Federal (MPF).
Hoje, as prestações de contas já vão ser feitas de maneira digital, virtual, e
nós vamos ter condições de fazer esses batimentos e vamos aprimorar [o processo
de prestação de contas]”, disse.
Para o ministro, a mudança no sistema de financiamento de campanhas não
significou mudanças no sistema eleitoral, e isso pode acarretar problemas no
futuro. As eleições municipais, no caso dos vereadores, seguirão o sistema
proporcional em lista aberta. “No debate que tivemos no Supremo Tribunal
Federal, eu disse que, independentemente do modelo que quiséssemos desenhar,
primeiro teríamos que definir qual era o sistema eleitoral, para depois então
definirmos qual seria o modelo de financiamento”, lembrou.
O ministro também foi questionado sobre se o projeto de lei que trata do
abuso de autoridade, cuja tramitação foi retomada nesta quinta-feira (30) no
Senado Federal, tem alguma correlação com os desdobramentos da Operação Lava
Jato. Gilmar Mendes respondeu que o projeto de lei foi elaborado em 2009 pelo
ministro Teori Zavascki, portanto, muito anterior à Operação Lava Jato, que
iniciou em 2014. Ele lembrou que esse projeto é fruto dos trabalhos do grupo de
notáveis criado em virtude do “II Pacto Republicano por uma justiça mais
acessível, ágil e efetivo”, convocado pelo então presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva, que também produziu a regulamentação do mandado de
injunção, sancionado pelo presidente da República em exercício, Michel Temer,
na semana passada.
Perguntado sobre os preparativos da Justiça Eleitoral para o pleito de
outubro, o ministro Gilmar Mendes enalteceu o empenho do corpo de servidores
para o sucesso do pleito. “Trata-se de um grupo significativo de pessoas que dá
a alma para realizar esse trabalho. Luiz Holanda, que é meu colega e amigo há
tantos anos, falava que ‘o jornal é o milagre de todo dia’. No TSE, as eleições
são milagres bienais – na verdade, milagres de todo dia, porque começamos a
preparar uma eleição quando encerramos aquela. Encerramos o primeiro turno e já
estamos preparando o segundo turno; encerramos o segundo turno e já estamos
pensando nas próximas eleições. Este ano, supostamente vazio, já envolve
trabalho. E agora, o grande desafio é nos adaptarmos e tornarmos efetivas as
deliberações do Congresso: prazo curto para a realização de campanha, registros
e tudo o mais”, lembrou.
A alteração da Instrução nº 53.850, discutida na sessão plenária
extraordinária da manhã desta sexta-feira (1º) e que tratou da distribuição do
tempo de propaganda no rádio e na televisão para partidos políticos que
receberam deputados federais que trocaram de legendas desde as eleições de 2014
também foi mencionada pelo presidente da Corte Eleitoral. Segundo o ministro
Gilmar Mendes, esses partidos não poderão se beneficiar do Fundo Partidário e
do tempo de TV e rádio em decorrência das novas filiações. “É fundamental que
nós tenhamos essa visão didático-pedagógica. Então, é preciso dar seriedade a
isso. Estamos atentos a toda essa realidade política. Os desafios não são
pequenos. Mas nós estamos nos preparando de forma muito enfática e dedicada
para enfrentar não só pequenos desafios. E nós não devemos também vender
ilusões”, declarou.
Ao falar sobre a questão da quantidade de partidos políticos registrados
– são 35 atualmente – e das negociações que costumeiramente costumam ser feitas
entre as agremiações para a distribuição das fatias do Fundo Partidário e do
tempo de rádio e TV, o presidente do TSE foi enfático: “Eu sou contra a criação
generosa de partidos políticos. Eu acho que nós erramos na ampliação desse
modelo. Nós estamos brigando aqui para que os diretórios se instalem de maneira
definitiva. Os partidos hoje têm donatários, donos. A Justiça Eleitoral está
tentando encerrar aquela fase em que a prestação de contas era um faz de
contas. Os partidos recebiam em torno de R$ 120 milhões do Fundo Partidário;
agora estão recebendo quase R$ 1 bilhão. É uma quantia significativa em
qualquer lugar do mundo. Isso, para partidos que não têm nenhuma função, é um
desperdício de dinheiro. É uma alocação de dinheiro para fins privados.”
As ações da Corte Eleitoral para combater o uso de partidos políticos
para fins não republicanos foram destacadas pelo ministro Gilmar Mendes. “As
agremiações que estão manipulando estão tendo seu Fundo Partidário bloqueado.
Mas mais do que isso: acho que devem perder o Fundo. Isso não pode ser uma
atividade de caráter lucrativo, comercial. A atividade política é nobre. Nós
não queremos satanizar a atividade política. Mas sem a atividade política
saudável, normal, nós não atingimos o bem público, não realizamos o fim elevado
da vida pública. Portanto, é preciso que os veículos, que são os partidos,
nessa mediação entre o poder e o cidadão, tenham o mínimo de higidez. Quando
isso se manifesta de maneira flagrantemente doentia, é preciso que nós tenhamos
uma ação efetiva, antecipadora e não repressiva”, ressaltou.
Sobre a consulta elaborada para tratar do financiamento coletivo de
campanhas eleitorais, por meio de aplicativos e páginas na internet ou outras
modalidades do chamado crowdfunding (ou, como é comumente conhecido em
português, “vaquinha virtual”), o ministro Gilmar Mendes esclareceu que essa
matéria ainda não foi examinada e que, portanto, carece de amparo legal. Ele
ressaltou que mecanismos que possam ser criados para arrecadar recursos não
podem servir de disfarces para doações de pessoas jurídicas, que são vedadas
por lei. “Nós temos um entendimento, que já é antigo, de não respondermos a
consultas em ano eleitoral e também não respondermos a consultas que não possam
ser claramente respondidas de forma assertiva: sim ou não. Portanto, é preciso
que haja essa clareza e, por isso, então, nós optamos por não conhecer [da
consulta]. Certamente, estamos preocupados com os modelos que se estão
desenhando de financiamento. Nós vamos já em agosto discutir matérias e estamos
nos preparando para fiscalizar de maneira adequada as doações”, completou.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, a Justiça Eleitoral está aberta para
novidades tecnológicas que venham a aprimorar a fiscalização das eleições. Ele
mencionou a iniciativa do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul
(TRE-MS) de desenvolver um aplicativo para smartphones para que o próprio
cidadão possa denunciar ao Ministério Público Eleitoral abusos que sejam
verificados no decorrer do processo eleitoral. “Nós estamos pedindo que esses
mecanismos sejam universalizados e que o TSE coloque isso à disposição de todo
o sistema de Justiça Eleitoral e do Ministério Público”, concluiu.
RG/LC
http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Julho/em-coletiva-presidente-do-tse-aborda-financiamento-eleitoral-tempo-de-propaganda-e-lei-de-abuso-de-autoridade
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