Interlocução entre mídia e Judiciário é fundamental para a democracia
EVENTOS
A palestra O relacionamento
entre o Judiciário e a mídiaabriu o último dia do Encontro
Brasil-Reino Unido: Gestão e Imagem da Justiça, na manhã desta sexta-feira
(20). A mesa foi presidida pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Og Fernandes e teve a participação de três palestrantes: Sean O’Brien, chefe da
Secretaria no Serviço de Tribunais de Sua Majestade, Fernando Rodrigues,
jornalista, e Mike Wicksteed, diretor do Lord Chancellor’s Departament e do
Departament for Constitutional Affairs do Reino Unido.
Og Fernandes afirmou que a relação
estabelecida entre o Judiciário e a imprensa no Brasil é delicada. Segundo ele,
existe certo “temor” e “desconfiança” entre as partes. O ministro conta com
experiência nas duas áreas profissionais, pois foi jornalista durante oito
anos, até ingressar na magistratura. “Sou um infiltrado no Poder Judiciário”,
comentou.
Especialista em comunicação judicial,
Wicksteed mencionou que na maior parte das vezes a mídia é o primeiro canal de
informação para a sociedade. Acrescentou ainda que, quando há uma boa relação
entre o Judiciário e a imprensa, certamente a informação a ser comunicada tem
efetividade.
O jornalista Fernando Rodrigues
ressaltou que a interlocução entre a mídia e a Justiça é fundamental para o bom
funcionamento de qualquer democracia. Ele destacou que o Brasil é uma
democracia muito jovem. “O Brasil passou por 21 anos de ditadura; de 1985 a
1994 tivemos uma longíssima transição para o atual período democrático; de 95
em diante, com a posse do primeiro presidente eleito pelo voto direto, tivemos
20 anos de democracia”.
Segundo ele, “tudo é muito recente na
vida institucional democrática brasileira. Existe uma falta de padrão nesse
relacionamento entre mídia e Judiciário, e os jornalistas estão sempre buscando
informações”.
Evolução do acesso
à informação
O jornalista falou sobre a evolução
dessa relação nos últimos 15 anos. Disse que, em 2000, foi a primeira pessoa a
solicitar a divulgação das declarações de bens de todos os políticos candidatos
a ocupar cargos públicos. Os pedidos eram recusados. Entretanto, “15 anos
depois, todas essas declarações são digitalizadas e colocadas à disposição de
qualquer cidadão”.
Rodrigues considera que a operação
Lava Jato pode ser considerada um padrão a ser adotado no país. “É o caso mais
emblemático e mais amplo de investigação de corrupção que já ocorreu no
Brasil”. O jornalista afirmou que a Justiça Federal, principalmente o TRF4
Região, divulga mensagens diárias sobre decisões de processos atinentes à
operação. “Há uma rapidez muito compatível com a que os meios de informação
necessitam para divulgar essas informações. Basta que a imprensa se cadastre, e
ela passa a receber essas informações. Sabemos com antecedência, na semana
anterior, o que vai acontecer na semana seguinte”.
Porém, ressaltou que a relação entre
a mídia e o Judiciário evolui de maneira assimétrica. “A lei de acesso à
informação continua sem regulamentação para arbitrar uma forma a ser seguida
por todos os tribunais, por isso ainda há um caminho muito grande para
trilharmos”, disse.
A opinião pública
O’Brien disse que existe uma pesquisa
de opinião na Inglaterra sobre as profissões que as pessoas mais confiam. A
pesquisa é feita desde 1983 e a mais recente é de 2014. Nela, “os juízes estão
sempre entre os primeiros colocados, com 80% de confiança”. Os primeiros são os
médicos, seguidos pelos professores, cientistas e depois juízes. No fim da
lista estão os políticos, jornalistas e banqueiros. “O Judiciário sempre esteve
na faixa de 70% a 80% de confiança. Os jornalistas sempre estiveram na faixa de
20%”.
De acordo com ele, no Reino Unido os
juízes têm muita consciência de que a linguagem usada é fundamental para
estabelecer a comunicação com o povo e com a mídia. Dessa forma, “os assessores
de imprensa não buscam interpretar o que os juízes falaram no tribunal, visto
que, quando há alguma indagação sobre o que é dito, pode haver um
esclarecimento posterior por parte do juiz”.
Og Fernandes encerrou os debates com
a afirmação de que o relacionamento entre mídia e Judiciário deve ser visto com
esperança, sobretudo porque beneficia toda a sociedade
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/Interlocu%C3%A7%C3%A3o-entre-m%C3%ADdia-e-Judici%C3%A1rio-%C3%A9-fundamental-para-a-democracia
É isso aí, transparência, publicidade e participação popular, e o NCPC está vindo aí...
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