VERDADE ALTERADA - Advogado não pode ser condenado junto com cliente por mentira nos autos
13 de julho de 2015, 9h22
Quando há litigância de má-fé, a responsabilidade de advogados só pode
ser reconhecida se comprovada em ação específica, e por isso o profissional da
área não deve ser multado junto com as partes. Assim entendeu a desembargadora
Marilene Bonzanini, do 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul, ao derrubar multa aplicada a um advogado por um juiz que constatou
“absurda deturpação dos acontecimentos” em um processo contra o estado.
A ação cobrava indenização por danos morais e materiais depois que
o cliente teve um veículo apreendido. O autor relatou que dirigia quanto teve o
carro recolhido pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Segundo ele,
esse episódio lhe causou grande humilhação, pois teve de voltar a pé para sua
residência e virou alvo de desconfiança da própria família, que não entendeu
por que o homem apareceu sem o veículo. Além da reparação, o homem pediu a
restituição do bem.
O estado apresentou versão bem diferente, representado pelo procurador
Lindolfo Ryuitchi Fujita, da Procuradoria-Geral do Estado. Em primeiro lugar,
disse que o carro não foi apreendido por agentes do Detran, mas pela Polícia
Civil, devido à prisão em flagrante do filho do autor, em 2004, pela prática do
crime de receptação. O produto do crime estava inclusive guardado no automóvel,
estacionado na via pública. Em segundo lugar, informou que o veículo foi
liberado pelo juízo criminal logo no mês seguinte, quase um ano antes do
ingresso da inicial indenizatória.
Ao analisar o pedido de indenização, o juízo de primeira instância
reconheceu a versão apresentada pelo estado, pois o mesmo juiz havia homologado
o registro policial. Ele apontou ainda que o próprio autor do processo acabou
confessando que não estava dirigindo no momento da apreensão, além de ter
deixado o carro deteriorar-se na rua.
‘‘Os fatos postos na inicial são uma absurda deturpação dos
acontecimentos, numa vergonhosa tentativa de extorquir o Estado do Rio Grande
do Sul na obtenção de indenização’’, criticou o juiz Nilton Luís Elsenbruch Filomena,
da Vara Judicial da Comarca de Estância Velha (RS). Por isso, ele aplicou multa
de 10% sobre o valor da causa não só ao autor, como solidariamente a seu
advogado.
Caminho do STJ
Em decisão monocrática, a desembargadora Marilene Bonzanini acrescentou que o advogado multado sabia que o veículo não estava mais apreendido, pois ele mesmo conseguira a liberação na época. “Tendo o procurador Dr. Jami Abdo pleno conhecimento dos fatos, não se justifica – a não ser por má-fé – que tenha distorcido a realidade dos fatos ao ingressar com demanda indenizatória, como se fez.”
Em decisão monocrática, a desembargadora Marilene Bonzanini acrescentou que o advogado multado sabia que o veículo não estava mais apreendido, pois ele mesmo conseguira a liberação na época. “Tendo o procurador Dr. Jami Abdo pleno conhecimento dos fatos, não se justifica – a não ser por má-fé – que tenha distorcido a realidade dos fatos ao ingressar com demanda indenizatória, como se fez.”
Apesar de reconhecer o problema, a relatora afirmou que o Superior
Tribunal de Justiça já pacificou entendimento de que é inviável a condenação
solidária da parte e de seu advogado por conduta prevista no artigo 17, inciso
II, do Código de Processo Civil.
‘‘Com a ressalva pessoal de que a interpretação [do STJ] apresenta
censurável corporativismo, tratando de forma diversa situações fáticas
idênticas – ambos, autor e advogado, concorreram para a conduta com plena
ciência das inverdades trazidas na peça inicial –, em atenção ao papel
uniformizador do STJ, é de ser aplicado o entendimento da Corte Superior, razão
pela qual vai provido o recurso, no particular, para afastar a responsabilidade
solidária do advogado’’, concluiu a desembargadora. Ela também avaliou ser
excessiva a multa aplicada, reduzindo-a para 1% sobre o valor da causa.
Clique aqui para ler a
sentença.
Clique aqui para ler a
íntegra da decisão monocrática.
FONTE: CONJUR
http://www.conjur.com.br/2015-jul-13/advogado-nao-condenado-cliente-mentira-autos
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